O empresário e blogueiro arapiraquense Jefferson Gomes foi brutalmente espancado por seguranças na saída de uma boate, na noite de domingo (21), em Lisboa, Portugal. Ele chegou a ter o nariz quebrado em três partes e ser jogado dentro do rio durante as agressões, que - de acordo com ele - foram motivadas por xenofobia e homofobia.

“Moro em Portugal há seis anos, estou em situação regular, trabalho e pago os impostos que são muito caros. Cumpro com todos os deveres, mas não tenho os mesmos direitos apenas por ser estrangeiro, brasileiro. Posso não ter sido o primeiro a ser vítima de tentativa de homicídio por conta da xenofobia, mas vou fazer o possível para que outras pessoas não passem pelo mesmo que passei”, afirmou.

Jefferson nasceu em Arapiraca e é sobrinho da ex-candidata a vereadora Magal Legal. Ele passou a infância na cidade agrestina, antes de se mudar para a cidade natal de sua mãe, Garanhuns (PE). Depois se mudou com a família para Fortaleza (CE) e há seis anos fixou residência em Lisboa, onde vive junto com o companheiro, o advogado Luís Almeida, que é cearense e atualmente faz mestrado na Universidade de Lisboa.

No vídeo publicado pelo empresário, ele fala sobre outros crimes de xenofobia no país e mostra a reação de amigos quando souberam do ocorrido com ele

O casal e uma prima de Luís, que é italiana, passaram a noite de domingo em um bar localizado no cais de Sodré, às margens do rio Tejo. Quando o estabelecimento estava fechando, por volta das 3h da madrugada de segunda (22), Jefferson voltou para usar o banheiro.

“Passado um tempo, meu companheiro foi a minha procura, mas foi impedido de entrar pelos seguranças. Quando ele insistiu, começou a ser empurrado por três seguranças. Ele questionou o porque de estarem fazendo aquilo recebeu um soco no rosto e foi ao chão. Então eles começaram a espancá-lo, apesar de ele estar no chão sem conseguir se defender. Quando eu e a prima dele nos aproximamos, também fomos agredidos”, relata o empresário.

Ele conta que a prima do namorado tentou afastar os seguranças e levou um soco no rosto e, Jefferson, na tentativa de tirar a atenção dos seguranças do companheiro dele, jogou uma pedra na vidraça do bar. Ele afirma que, dada a brutalidade dos agressores, temeu pela vida no namorado, que é preto. “Além da xenofobia e a homofobia serem muito comuns aqui em Portugal, ele ainda sofre com o racismo”, justificou.

O empresário conseguiu chamar a atenção dos seguranças, que deixaram de lado a outra vítima e partiram para cima dele, que chegou a correr para dentro do rio na tentativa de escapar dos agressores. “Começou uma cena de horror, na qual fui afogado no rio Tejo, torturado e agredido com socos e chutes no rosto e corpo, com eles gritando que iriam me matar. Eles só pararam depois que a polícia chegou”, disse.

Os policiais, segundo ele, antes de socorrer as três vítimas para o hospital, exigiu que elas entregassem os documentos para se certificar que os estrangeiros estão em situação regular no país. “Eu estava completamente ensanguentado, meu namorado muito machucado e a prima dele também sentindo muita dor, mas eles só queriam saber dos nossos documentos. O que aconteceu com a gente foi tortura, tentativa de homicídio. E mesmo depois que provamos que não estamos em condição ilegal no país, eles nada fizeram contra os seguranças”, completou.

Mesmo com as aparentes marcas dos machucados, depois de passar por cirurgia no nariz, a sensação de impunidade continuou quando ele procurou a polícia para denunciar as agressões. Ele disse ter ouvido de autoridades policiais que o caso “não daria em nada” e que agora ele e o namorado estão sendo alvo de difamação: os proprietários do bar afirmam que os agressores não trabalham como seguranças e que foram eles que começaram a briga com outros frequentadores do local.

Em meio a tudo isso, Jefferson critica também a falta de comprometimento a embaixada brasileira em Portugal, que após várias tentativas de contato apenas encaminhou um passo-a-passo das providências que ele e o namorado devem tomar.

“No momento, estamos apavorados com tudo, é até difícil falar sobre o ocorrido. Mas nós vamos até o fim, fomos vítimas de tortura, de tentativa de homicídio, e não vamos parar até que os responsáveis sejam punidos”, declarou.

Jefferson tentou fugir entrando no rio, mas foi seguido e espancado pelos agressores

Xenofobia

O empresário afirma que os brasileiros frequentemente são vítimas de ataque xenofóbicos por parte dos portugueses. Ele mesmo já chegou a ser xingado apenas por falar “português brasileiro” e reconhece que a situação do companheiro Luís Almeida, por ser preto, é ainda mais complicada.

“Ele já sofreu várias ofensas racistas e nós também já fomos alvo de homofobia dentro de um carro por aplicativo. Apenas porque trocamos alguns carinhos, já fomos expulsos e xingados por um motorista, que com certeza não agiria da mesma forma se fôssemos um casal hétero”, disse.

Jefferson conta que Luís Almeida integra um grupo de brasileiros que luta contra a xenofobia na Faculdade de Direito na Universidade de Lisboa e que, após a tentativa do grupo de chamar a atenção do presidente Lula para o preconceito vivido pelos brasileiros na instituição, no dia seguinte se depararam com uma caixa cheia de pedras na entrada da universidade com uma placa que dizia: “grátis para atirar em zucas [apelido pejorativo que faz referência aos brasileiros]”.

“Nós já decidimos que não vamos mais continuar morando em Portugal. Não dá para a gente se mudar para outro país de uma hora para outra, até porque meu namorado tem aulas presenciais do mestrado na Universidade de Lisboa até o mês de agosto. Mas após tudo que passamos, não tem como continuar aqui”, afirmou.