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Terra pode ter segundo dia mais curto da história nesta terça-feira; entenda

Terra pode ter segundo dia mais curto da história nesta terça-feira; entenda

Por R7 22/07/2025 12h12
Terra pode ter segundo dia mais curto da história nesta terça-feira; entenda
Planeta Terra - Foto: Pixabay

A Terra está girando mais rápido do que o normal, e isso está tornando os dias um pouquinho mais curtos. Esta terça-feira (22), por exemplo, pode se tornar o segundo dia mais curto já registrado, com uma rotação completa do planeta em 1,34 milissegundos a menos que as 24 horas padrão.

Normalmente, um dia na Terra dura 24 horas, ou 86.400 segundos, que é o tempo que o planeta leva para completar uma rotação em seu próprio eixo. Mas essa duração não é fixa.

Pequenas variações, medidas em milissegundos, acontecem devido a fatores como a atração gravitacional da Lua, mudanças sazonais na atmosfera e até a movimentação do núcleo líquido da Terra.

Segundo dados do Serviço Internacional de Sistemas de Referência e Rotação da Terra e do Observatório Naval dos EUA, o dia mais curto de 2025 até agora foi 9 de julho, com 1,36 milissegundos a menos que o padrão.

Nesta terça-feira, a previsão é que a Terra gire 1,34 milissegundos mais rápido, o que tornaria o dia o segundo mais curto até então. Outro dia curto está previsto para 5 de agosto deste ano, com 1,25 milissegundos a menos.

Essas diferenças são minúsculas e não afetam a nossa rotina. Mas, a longo prazo, elas podem impactar sistemas que dependem de tempo preciso, como computadores, satélites e telecomunicações.

Por isso, cientistas monitoram essas variações com relógios atômicos, que medem o tempo com altíssima precisão usando as oscilações de átomos em câmaras de vácuo.

O que são relógios atômicos?

Introduzidos em 1955, os relógios atômicos são a base do Tempo Universal Coordenado (UTC), o padrão global que sincroniza desde os nossos celulares até sistemas de navegação por satélite.

Cerca de 450 relógios atômicos ao redor do mundo garantem que o UTC seja extremamente preciso. Astrônomos também acompanham a rotação da Terra, usando satélites para comparar a posição do planeta com estrelas fixas, e detectam pequenas diferenças entre o tempo dos relógios atômicos e o tempo real de rotação da Terra.

O recorde histórico de dia mais curto, desde a criação dos relógios atômicos, foi em 5 de julho de 2024, quando a Terra completou sua rotação 1,66 milissegundos mais rápido que o normal.

“Temos observado uma tendência de dias ligeiramente mais rápidos desde 1972”, disse Duncan Agnew, professor de geofísica da Universidade da Califórnia, nos EUA, à rede norte-americana CNN.

“Mas há flutuações, como no mercado de ações: existem tendências de longo prazo, mas também altos e baixos”, explicou.

O que é o ‘segundo intercalar’?

Para corrigir as diferenças entre o tempo medido pelos relógios atômicos e a rotação real da Terra, cientistas criaram o chamado “segundo intercalar”. Ele funciona como o “dia bissexto” do calendário, que adiciona um dia ao mês de fevereiro a cada quatro anos.

Desde 1972, 27 segundos intercalares foram adicionados ao UTC, mas nenhum desde 2016, porque a Terra tem girado mais rápido.

Curiosamente, essa aceleração pode levar a uma situação inédita: a necessidade de um “segundo intercalar negativo”, ou seja, retirar um segundo do UTC. “A probabilidade de isso acontecer até 2035 é de cerca de 40%”, disse Agnew.

Por que a Terra está girando mais rápido?

Vários fatores explicam essa aceleração. No curto prazo, a Lua e as marés influenciam: quando a Lua está sobre o equador, a Terra gira mais devagar; quando está em latitudes mais altas ou baixas, gira mais rápido.

Durante o inverno do hemisfério sul, a atmosfera desacelera devido a mudanças sazonais, como o movimento da corrente de jato, e a Terra compensa girando mais rápido para conservar o momento angular.

No longo prazo, o núcleo líquido da Terra também desempenha um papel. Nos últimos 50 anos, ele tem desacelerado, fazendo com que a crosta e o manto girem mais rápido. “A causa dessa aceleração não está totalmente explicada”, disse Leonid Zotov, da Universidade Estatal de Moscou, na Rússia, à revista Space.

“A maioria dos cientistas acredita que é algo interno ao planeta, já que modelos oceânicos e atmosféricos não justificam essa aceleração”, acrescentou.

Mudanças climáticas e a rotação da Terra

Surpreendentemente, as mudanças climáticas também entram na equação. O derretimento das calotas polares na Antártida e na Groenlândia, que contribui, segundo a Nasa, para um terço do aumento do nível do mar desde 1993, redistribui a massa da Terra.

Isso desacelera a rotação, como um patinador que gira mais devagar ao estender os braços. “Se não fosse o aquecimento global, já estaríamos próximos de um segundo intercalar negativo”, disse Agnew.

Além disso, o deslocamento dessa massa está afetando o eixo de rotação da Terra, segundo um estudo liderado por cientistas do Instituto Federal Suíço de Tecnologia. Se o aquecimento global continuar, ele pode até superar a influência da Lua, que historicamente desacelera a rotação do planeta.

A boa notícia é que a aceleração da Terra parece estar diminuindo. Zotov acredita que a rotação pode voltar a desacelerar em breve, o que tornaria esses dias curtos uma anomalia temporária.