Alagoas

Agosto Lilás: “mulheres negras são mais violentadas”

A pesquisadora Maria Aparecida Batista fala sobre os dados alarmantes para as mulheres negras em Alagoas

Por Ascom Ufal 18/08/2020 17h05
Agosto Lilás: “mulheres negras são mais violentadas”
Agosto Lilás, Ufal - Foto: Ascom Ufal

A Campanha Agosto Lilás, realizada durante o mês de agosto no Brasil, tem como diretriz fazer um chamamento a sociedade para o reconhecimento e conscientização da violência doméstica contra as mulheres em seu cotidiano. Nessa Campanha, estão envolvidos os organismos estatais e a sociedade civil, cuja finalidade é refletir criticamente sobre as diversas formas de violência a que as mulheres são submetidas no interior de seus lares: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral, e muita vezes chegando até a morte. O debate se dá em torno da Lei 11340 - Maria da Penha, fruto das lutas dos movimentos feministas e sociais, da sociedade civil e do Estado.

Para a professora e pesquisadora Maria Aparecida Batista de Oliveira, do Instituto de Ciências Humanas, Letras e Artes (Ichca) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), a lei é muito importante no combate e erradicação da violência, por ser ao mesmo tempo punitiva, pedagógica e política. “A luta de combate a violência é continua, entretanto, mesmo com o avanço da Lei Maria da Penha, já em seus 14 anos de existência, ainda presenciamos a subnotificação de dados. O Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial da violência contra a mulher, com dados recentes que apontam que a cada duas horas uma mulher é assassinada no país, já sendo considerado um país “feminicida”, destaca ela com muita tristeza.

A professora Maria Aparecida atua há anos nas questões de gênero, opressão, violência, patriarcalismo, machismo, racismo, feminismo negro, relações étnico-racial, diversidade religiosa e sexual, como educadora, pesquisadora e gestora na área. O cenário da violência exercida contra a mulher no Estado de Alagoas é alarmante e os dados revelam o Estado como o 3º do Brasil onde mais se violentam suas mulheres, de acordo com o Mapa da Violência de 2015, 2018, e 2019. “Esse último registra um crescente percentual de assassinatos de mulheres alagoanas, com uma média de 6,5% de mortes a cada 100 mil habitantes”.

As mulheres negras são as mais violentadas, pois padecem de uma tripla violência, gênero, raça e classe. O Mapa da Violência de 2015 aponta que 57% das mulheres assassinadas são negras e o Mapa da Violência de Gênero, indica que 70% das mulheres assassinadas em Alagoas são negras.

“É preciso, portanto, debater em todos os níveis do ensino a questão de gênero, machismo e violência, pensar na formação de um novo homem e uma nova mulher respeitosos com suas diferenças, mas socialmente iguais. Acolher, escutar as mulheres em situação de violência é imprescindível, e, sobretudo, poder ajudá-las em seu empoderamento, informar os caminhos seguros que devem procurar para buscar apoio”, ”, diz a professora Maria Aparecida, a “Cida”, tão conhecedora de toda essa causa.

Vamos destacar onde procurar apoio: Policia Militar (190); Delegacia da Mulher/ Centro (33154976); Salvador Lyra (3315 4976); Arapiraca(35216318); IML/ Tabuleiro do Martins (33152291); Defensoria Pública ( 999883329); Patrulha Maria da Penha ( 988676430); CEAM (3315 1740); OAB (991047116); Central de Apoio (180); RAVVS (33154444), CDDM (999225202).

Em pesquisa recente realizada pela equipe da Ufal sobre “Violência contra a Mulher Negra em Alagoas: uma questão de saúde pública e de cidadania”, juntamente com o professor Jorge Luís Riscado, a enfermeira Socorro França, a estudante de Medicina e mestra em Nutrição, Isabele Tenório Malta e a estudante de Psicologia Diná Ferreira dos Santos, foi analisado como estão notificados os episódios de violência expressadas contra a mulher negra, em Alagoas, no período de 2012 a 2017.

Essa pesquisa culminou com a publicação dos seus dados em artigo denominado “Mulher e violência em alagoas: o real se desvelando, como uma questão de saúde pública e de cidadania” e terá a segunda etapa construída a partir da escuta das mulheres e seus itinerários na busca dos serviços de saúde.

Cida enfatiza que desvelar e combater a violência é um dever ético e de cidadania de toda sociedade, família, universidades, escolas, operadores/as de direito, igreja, ongs, estabelecimento comerciais, hotéis, dentre outros, como forma de se pensar nas possibilidades de “construção de uma nova sociedade, plenamente democrática, equânime, solidária, amorosa, respeitosa com suas diversidades , igualitária e justa”.