Mãe e filho com microcefalia morrem de Covid-19 com 18 dias de diferença
O quadro de saúde de Neucy se agravou no mesmo dia após a morte do filho
A dona de casa Neucy Prudente, de 45 anos, morreu após ter complicações em decorrência da Covid-19 no último dia 18 de maio, no município de Botucatu, no interior de São Paulo, dias após o filho mais novo, Gabriel, de 11 anos, que possuía microcefalia, também falecer por conta da doença.
A matriarca da família moravam com o marido e três dos sete filhos.
Um dos filhos da dona de casa, Leonam Prudente, de 25 anos, contou em entrevista exclusiva ao Portal da RedeTV! que a mãe foi a primeira pessoa da família a apresentar sintomas da covid. De acordo com Leonam, a mãe teve inicialmente uma simples dor de garganta, “Ela achou que fosse a garganta, mas começou a ficar mais debilitada e começou a passar muito mal. Foi onde ela viu que era mais que uma simples inflamação”, relembrou.
Após os primeiros sintomas, ela decidiu realizar o teste de farmácia para verificar se estava contaminada com o vírus. O resultado do exame deu positivo e, com isso, toda a família também se submeteu ao exame. Naquela ocasião, apenas Leonam e Gabriel testaram negativo para covid-19.
Conforme relato de Leonam, ele passou a cuidar do irmão, que além da microcefalia, também era portador da síndrome de West.
Internação e complicações
No dia 25 de abril, Neucy precisou ser hospitalizada e, no dia seguinte, Gabriel apresentou quadro de febre de 39Cº, chegando a convulsionar. O garoto foi encaminhado para o Hospital das Clinicas da Unesp de Botucatu para receber atendimento médico. No local, Gabriel testou positivo para coronavírus após se submeter a um novo exame para diagnóstico da doença.
No dia 27 de abril, o quadro de saúde de Gabriel era considerado estável, contudo, ele precisou ser intubado para poupar as funções do coração. Leonam relata que, por volta das 22h do mesmo dia, recebeu a noticia do falecimento do irmão.
Devido ao seu quadro de saúde, Neucy, que estava internada no hospital Municipal de Botucatu, não foi informada sobre a morte do filho por indicação da equipe médica, no entanto, sua situação apresentou piora ainda no mesmo dia.
Campanha em redes sociais
Diante da situação, a família realizou uma campanha através das redes sociais para que a Secretária de Saúde Municipal disponibilizasse um leito de UTI para a dona de casa, em um hospital particular da cidade.
Leonam recorda que a mensagem enviada para o secretário municipal foi em tom de apelo. “A mensagem que eu escrevi foi justamente uma mensagem de apelo de um filho apelando pela vida de uma mãe, porque eu tinha esperança que na rede privada tivesse mais chance dela sair viva”, afirmou.
A campanha gerou resultado positivo e Neucy foi transferida para a rede privada. Ela chegou a ficar 22 dias internada e, nesse período, seu rim parou de funcionar, o pulmão ficou comprometido, e seu quadro clínico foi se agravando a cada dia. A dona de casa acabou não resistindo e faleceu no dia 18 de maio. A notícia de sua morte caiu como uma bomba para toda a família.
Relação entre mãe e filho
De acordo com Leonam, durante a gestação de Gabriel, a mãe realizou todo o pré-natal corretamente e, mesmo assim, os exames não haviam identificado nenhuma alteração no feto. Após o nascimento, a previsão médica era que o bebê sobreviveria apenas até o primeiro ano de vida.
Com o passar dos anos, Neucy chegou a gravar um vídeo quando Gabriel completou 9 anos de idade, para falar sobre o estado de saúde do filho. Por conta da síndrome, ele não falava, não ouvia e não conseguia enxergar, além de ter os movimentos comprometidos.
Segundo Leonam, o irmão passou por diversos agravamentos na saúde e lutou sempre para a sobrevivência. Em 2018, Gabriel foi internado e a família chegou a ser desenganada pelos médicos.
Neucy sentiu a morte do filho
Leonam conta que a mãe tinha uma relação sobrenatural com Gabriel, o que os fazem acreditar que a piora de Neucy tenha sido ocasionada por conta da morte do filho.
Para o psicólogo e membro do Instituto Bem do Estar, Ricardo Milito, o psicológico do ser humano tem papel fundamental no funcionamento e na saúde do nosso organismo, entretanto, não há estudos que comprovem a relação da saúde mental com o agravamento de casos de pessoas com covid.
“É possível que a mãe, por estar preocupada com o estado de saúde de seu filho, tenha tido seu emocional e psicológico prejudicado, consequentemente, agravando seu estado de saúde já comprometido pela covid”, esclareceu. Ele ainda ressalta que “o rompimento de relações afetivas é bastante doloroso e pode, consequentemente, resultar em doenças psicossomáticas”, garantiu Milito.
Leonam diz que a família está tentando se reerguer após a partida da mãe e do irmão. Ele relembra que Neucy era a base da família. “Ela que cuidava de tudo, ela cuidava do Gabriel com muito amor, com muito carinho, ela proporcionou muito afeto para ele. Ela era uma mãe coruja”, declarou. Para Leonam, a Covid-19 interrompeu os planos dele com a mãe, “Eu me sinto perdido até hoje, me sinto desnorteado, tínhamos muitos planos juntos”, lamentou.