Bibliotecas do sistema prisional alagoano somam mais de 12 mil livros
Obras de diferentes gêneros são utilizadas em projetos desenvolvidos
A leitura é fonte de conhecimento, entretenimento e aprendizagem. Inúmeras pesquisas comprovam que o ato de ler melhora a função cerebral, além de aperfeiçoar o vocabulário e a escrita. Nesse sentido, a Secretaria da Ressocialização e Inclusão Social (Seris) segue desenvolvendo políticas que buscam incentivar tal hábito nos reeducandos.
Atualmente, há cerca de 12 mil livros no sistema prisional, distribuídos em cinco bibliotecas instaladas na unidade Sesi Indústria do Conhecimento, Núcleo Ressocializador da Capital, Presídio Cyridião Durval e Silva, Presídio do Agreste e Estabelecimento Prisional Feminino Santa Luzia.
Karisse Azevedo, bibliotecária e mestranda em Ciência da Informação, explica que a leitura tem o poder de nos fazer confrontar a realidade que vivemos com quem somos e, mais do que isso, quem poderíamos ser. “É uma ferramenta capaz de adentrar nas superfícies mais profundas do ser e promover transformações por meio das reflexões feitas pelo leitor”, analisa.
“Ela nos permite tirar dúvidas, consolidar opiniões, conhecer outras culturas e histórias. Por isso é que nos deixa mais atentos ao que acontece ao nosso redor, promovendo empatia para a realidade dos outros. Além disso, amplia o vocabulário e diminui o nível de estresse e ansiedade, uma vez que possibilita um descanso mental de sua própria realidade, o que acarreta numa melhora do comportamento do sujeito”, reforça Azevedo.
Adailton Cortez, professor de Língua Portuguesa e mestre em educação, explica como a leitura pode interferir na formação do indivíduo. “Sem dúvida, a leitura é fundamental para o desenvolvimento de qualquer ser humano, pois quando a gente lê, quando estimulamos a prática da leitura, uma série de operações mentais são realizadas para se construir sentido. Pois ler é construir sentido diante da informação visual. Ler, em qualquer dos níveis, é algo que estimula e desenvolve a capacidade cognitiva em qualquer pessoa”, afirmou.
Leitua que liberta
Silvana Monteiro, por sua vez, explica que a leitura já faz parte do seu dia a dia. “Faz da minha rotina mais leve e acessível, além de me permitir sonhar com um futuro melhor”, atesta a reeducanda do Presídio Santa Luzia, que participa dos projetos de leitura executados naquela unidade prisional.
O Projeto Lêberdade é uma dessas ações direcionadas ao hábito de ler. Lançado em abril de 2017, o projeto, além de abrir horizontes por meio dos livros, possibilita a remição da pena, pois, a cada obra lida e resenha aprovada, quatro dias de pena são remidos. Até julho deste ano, mais de 700 leituras foram realizadas na unidade.
“Para nós [o projeto] é um alento; é uma das experiências mais incríveis. Agradecemos à comissão que nos ensinou a trabalhar em conjunto. No nosso alojamento, por exemplo, trabalhamos a leitura juntas”, destaca Monteiro. "Além da remição da pena, a iniciativa da Seris estimula o poder de argumentação, entendimento e espera. Ontem eu fui uma pessoa e, hoje, posso ser a pessoa que eu desejar. O livro produz efeitos inimagináveis para quem lê. Acredito que a educação é a única forma de mudar qualquer coisa neste mundo para melhor", completa a custodiada.
Outra iniciativa é a Maleta de Leitura. Trata-se de um projeto pedagógico em que cada aluna passa a semana com uma maleta, compartilhando a leitura do livro com as colegas de cela. Após esse período, a leitora terá como missão narrar e “vender” a história para que outras internas se interessem pela obra, formando uma rede de conhecimento literário.
Para a agente penitenciária e supervisora de Educação da Seris, Genizete Tavares, essas iniciativas vêm para somar com o trabalho realizado na sala de aula. “Além de contribuir com a formação escolar, este projeto desperta os reeducandos para a importância de se adotar o hábito da leitura, que nos liberta da ignorância e nos incentiva a abrir os horizontes, tornando cada um de nós um multiplicador de sonhos”, reflete a gestora.
Sobre a participação da sociedade civil, Tavares afere que ela tem crescido. “A sociedade tem atendido ao nosso chamamento para doar livros e enriquecer nossas bibliotecas e salas de aula. Esses projetos atendem às pessoas privadas de liberdade com oportunidades para se adquirir o conhecimento de modo horizontal, sem distinção. Compartilhamos do sentimento de que, ao doarmos livros, também estamos doando liberdade”, emenda Tavares.