Saúde

Mais de 100 bancários testaram positivo para Covid-19 em Alagoas

Para presidente de sindicato, agências são grande vetor de contágio

Por Patrícia Bastos/ 7Segundos 09/06/2020 17h05
Mais de 100 bancários testaram positivo para Covid-19 em Alagoas
A organização está sendo feita por funcionários da caixa com o auxílio da segurança municipal - Foto: Ewerton Silva (7 Segundos)

Não é novidade que as aglomerações em agências bancárias potencializam o risco de contaminação pelo coronavírus, mas de acordo com o presidente do Sindicato dos Bancários de Alagoas, Márcio dos Anjos Silva, os bancos podem ser classificados como um dos maiores vetores de contágio da doença. Segundo ele, após as unidades de saúde que atendem pessoas com Covid-19, o local onde há mais risco de contrair a doença são as agências bancárias. Uma prova disso é que, em Alagoas, há mais de 100 bancários que testaram positivo para a doença.

“Não temos dados oficiais porque não há transparência por parte dos bancos na divulgação das informações, mas conforme o que os próprios bancários informam ao sindicato, mais de 100 funcionários de bancos em Alagoas foram contaminados pelo coronavírus. Tivemos também duas mortes de bancários, infelizmente, ambas em Arapiraca. Guardadas as proporções lógicas e com todo o respeito à categoria, depois dos profissionais de saúde, os bancários são os trabalhadores que estão na linha de frente do coronavírus”, afirmou.

Em Arapiraca, informações e boatos sobre funcionários de agências bancárias que estariam trabalhando doentes se espalham pelas redes sociais. De concreto há a suspensão das atividades do Itaú, por período indeterminado, e a contaminação de 18 trabalhadores da Caixa Econômica, agência Arapiraca, localizada na avenida Rio Branco, confirmada pelo presidente do Sindicato dos Bancários.

“Conforme informações não-oficiais recebidas pelo sindicato, a agência tem 14 funcionários e outros quatro trabalhadores terceirizados foram contaminados, mas mesmo assim não fechou um dia sequer, descumprindo os protocolos sanitários”, afirmou. Márcio Silva afirma que, no início da pandemia, as instituições financeiras e a confederação dos sindicatos representantes dos bancários formaram um comitê e celebraram um termo de ajustamento de conduta (TAC), a nível nacional, estabelecendo protocolos sanitários para a segurança dos funcionários e clientes dos bancos. 

A primeira medida, que foi afastar todos os funcionários que se enquadravam no grupo de risco - com mais de 60 anos de idade, portador de doenças crônicas e gestantes - foi adotada, mas o mesmo não acontece com as demais medidas estabelecidas, entre elas a transparência nas informações sobre os bancários que foram contaminados no exercício de suas atividades e os protocolos de segurança. O presidente do sindicato afirma que, conforme o TAC, quando um funcionário de uma agência apresenta sintomas de Covid-19, o protocolo determina que ele seja afastado de imediato, bem como todos os funcionários da agência, que deveria ser submetida a uma sanitização. Após este processo, a agência pode ser reaberta, mas com outros funcionários. Aqueles que testaram positivo para a doença permanecem afastados por 14 dias e quem teve contato com ele, pode retornar ao trabalho após 7 dias de afastamento, se não apresentar sintomas. 

Trabalhando contaminado

A realidade, no entanto, é bem diferente. Na semana passada, cônjuge de um bancário que trabalha na Caixa, agência Arapiraca, entrou em contato com o 7Segundos informando que ao menos 14 funcionários da agência pegaram a Covid-19, confirmando a informação fornecida pelo Sindicato dos Bancários. Entre os funcionários que testaram positivo, ao menos dois ficariam afastados por apenas sete dias e voltariam a trabalhar sem ter completado os 14 dias de isolamento total, como preconiza as autoridades sanitárias.

“É um descaso do banco. Numa hora como esta só pensa em dinheiro, não tem responsabilidade com a saúde dos funcionários ou dos clientes”, reclamou. Segundo ele, o afastamento dos trabalhadores acontece apenas quando há atestado médico e não quando os funcionários passam a apresentar os sintomas.

“Os funcionários precisam pagar pelo exame do próprio bolso e, como é necessário esperar alguns dias após o início dos sintomas para que o exame tenha um resultado seguro, tem gente que está indo trabalhar doente. Quando o funcionário recebe o resultado do exame e vai a um médico, ele afirma que provavelmente ele já passou da metade do ciclo da doença e dá atestado de sete dias. Ou seja, na primeira parte da doença, esse funcionário trabalhou e provavelmente transmitiu para as pessoas que tiveram contato direto com ele. E quando voltar, por não ter ficado isolado por 14 dias, não há segurança que está curado e que não vai mais infectar outras pessoas com a doença”, afirmou.

Auxílio emergencial

Márcio dos Anjos Silva afirmou que, além de os bancos não estarem cumprindo os protocolos sanitários, a centralização do auxílio emergencial em um único banco, que levaram a aglomerações desordenadas principalmente nas primeiras semanas em que os pagamentos foram liberados, quando os beneficiários formavam filas sem respeitar o distanciamento social ainda na madrugada ou ainda na noite anterior. Mas mesmo com a organização do atendimento com senhas e disponibilização de cadeiras e tendas para que as pessoas possam esperar atendimento com um pouco mais de segurança.

“Quando estavam sendo definidos os meios de o auxílio ser distribuído à população, as entidades sindicais que representam os bancários foram terminantemente contra a centralização dos pagamentos na Caixa porque era mais que previsível que acontecesse o que aconteceu. Mas o governo federal, que defende o fim do isolamento social, não deu ouvido aos conselhos e os números de infectados e mortos, que agora eles tentam maquiar, só aumentam a cada dia”, ressaltou.

Para o sindicalista, qualquer pessoa que precisa fazer resolver algum assunto em uma agência bancária deve antes checar se existe algum outro meio para obter o serviço por outros canais, como pela internet ou aplicativo no celular. “O que percebo, como bancário é que naquelas aglomerações nos bancos, cerca de 95% das pessoas poderia resolver suas questões sem precisar ir às agências bancárias. Sei que existe a questão da educação e do acesso mesmo a esses outros sistemas, mas estamos vivendo uma realidade nova e as pessoas precisam fazer um esforço para se adaptar”, declarou.

Em relação ao auxílio emergencial, ele afirma que muitos supermercados e outros estabelecimentos aceitam o cartão do benefício para pagamento do débito. “O beneficiário pode checar, pelo aplicativo que o dinheiro está disponível,  ir ao supermercado fazer suas compras e pagar com o cartão. Ir ao banco para poder sacar o dinheiro vivo, neste caso, é um risco totalmente desnecessário. Para pagar contas, por exemplo, muitas pessoas têm o hábito de sacar o dinheiro no banco e ir a uma casa lotérica para efetuar o pagamento, mas poderia resolver isso tudo facilmente, sem precisar sair de casa, pelo celular. Por isso, sempre que posso, com todas as pessoas com quem tenho contato, sempre recomendo, evite ir ao banco. Só vá se realmente não tiver como resolver por outros meios”, ressaltou.