Comunidade Carrasco não quer atuação da Vale Verde dentro do território quilombola
Representantes da comunidade não querem que mineradora faça escavações nas terras ancestrais
Em reunião com representantes da Secretaria Estadual da Mulher e dos Direitos Humanos, na manhã desta terça-feira (18), os moradores da comunidade remanescente quilombola do sítio Carrasco, decidiram que a Mineradora Vale Verde não deve fazer escavações dentro do território.
“Está para ser marcada uma reunião da Vale Verde com a comunidade. Eles vão apresentar o projeto deles, onde vai atingir e também o projeto social para as famílias que seriam atingidas. Mas nós estamos preparados para dizer não para a Vale”, afirma a representante quilombola Genilda Queiroz.
Segundo ela, representantes das quatro famílias que fundaram a comunidade do Carrasco participaram da reunião - que não pôde ser aberta a todos os moradores do território para evitar aglomeração - estão decididos contra as escavações nas terras ancestrais.
“Todos em uma só voz disseram que não querem a Vale Verde aqui. Ela podem até fazer um trabalho social na comunidade, mas sem escavar. Não queremos que venha destruir o nosso convívio, a nossa história. A gente sabe que pode ter indenização para quem seria afetado, mas a comunidade somos todos nós juntos. Se dividir, não vai mais existir a nossa comunidade e a nossa história será apagada, assim como o nosso espaço, pelo qual lutamos tanto”, ressaltou Genilda.
As escavações da Vale Verde dentro do território quilombola começaram na última semana de julho e pegaram os moradores de surpresa. A comunidade remanescente, certificada pela Fundação Palmares, é considerada território tradicional, regido pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho.
O pacto estabelece, entre outras coisas, que qualquer atividade dentro dos territórios tradicionais só podem ser executadas com a concordância da população local, que deve ser consultada antes do início das atividades e informada sobre todos os impactos que terão na comunidade. Mas nada disso aconteceu. “Não houve conversa alguma. Fomos realmente pegos de surpresa e a gente tem medo que aconteça com a nossa comunidade a mesma situação do povoado Laje, em que os moradores tiveram que se mudar após as escavações da Vale Verde”, ressaltou.
Na época, por meio de nota, a Vale Verde argumentou que estava fazendo sondagem geológica do local, coletando amostras de minério na superfície do solo, e que a atividade tinha a autorização dos proprietários dos terrenos e licenciamento ambiental. A empresa alega que a sondagem seria apenas um "estudo inicial", que não significa que serão feitas perfurações na região e que iniciaria as conversas com a comunidade e, por conta disso, a Convenção da OIT não foi descumprida.