Pecuarista cotado para governo Bolsonaro fala em desmatar mais e desdenha aquecimento global

Um dos principais problemas de uma possível eleição de Jair Bolsonaro para quem se preocupa com o meio ambiente e com os animais é a promessa de acabar com o Ministério do Meio Ambiente.
Na teoria, não seria acabar. Está certo que em um eventual governo Bolsonaro os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente serão um só. E essa nova pasta será entregue na mão de um ruralista. Na prática, portanto, é o mesmo que acabar com o Ministério do Meio Ambiente.
Em entrevista para a Folha de S. Paulo publicada nesta quarta-feira (17), Luiz Antonio Nabhan Garcia, ruralista fortemente cotado para ministro da pasta Agricultura/Meio Ambiente, falou sobre suas impressões sobre o tema.
Não é à toa que Garcia é forte candidato à ministro caso Bolsonaro torne-se presidente. Ele pensa como Bolsonaro sobre o tema. Para Garcia, o aquecimento global existe, mas existe “muita fantasia, muita lenda” a respeito. Segundo ele, esse exagero – como ele coloca – foi criado pelo movimento de esquerda.
“Essa já é uma outra discussão, técnica, que criaram muita fantasia, muita lenda em cima, nesse processo ideológico dessa esquerda que tentou dominar o mundo e está indo por água abaixo.” disse Garcia.
Ele também defende que o Brasil seja retirado do Acordo de Paris, assinado em 2015 por nada menos que 195 países. O documento é um compromisso de praticamente todas as nações do mundo para diminuir a emissão de gases do efeito estufa.
Garcia também é tacanho ao falar sobre de onde vêm as emissões desses gases prejudiciais. É de conhecimento público que a pecuária é a causa número um de emissões de gases do efeito estufa. Em 2017, uma junta com cientistas de 184 países assinaram um documento que, entre outras medidas, pede para que a população se alimente sem produtos de origem animal (veja aqui).
A agricultura, especialmente por conta das monoculturas que servem para alimentar os animais da pecuária, também entra como grande emissora de gases causadores do aquecimento global. Mas Garcia, contrariando todo o conhecimento científico e até especialistas da ONU sobre o assunto, acha que não.
“Criou-se uma fantasia, uma lenda, onde, no Brasil, o cara que degrada o meio ambiente é o produtor rural. É exatamente o contrário. Esse produtor rural é o maior conservador do meio ambiente.” – disse Garcia, dono de fazendas de soja, milho e algodão no Mato Grosso. Ele também tem fazendas de pecuária e de eucaliptos no Mato Grosso do Sul e atualmente é presidente da UDR (União Democrática Ruralista).
Garcia também falou para a Folha de S. Paulo que não haverá diálogo com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e que ele se recusa até a sentar na mesma mesa que integrantes do MST. A atitude certamente colocaria ainda mais lenha na fogueira nos conflitos entre fazendeiros e membros do MST.
Garcia citou ainda o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), afirmando que vai acabar com o que chama de “indústria da multa” desse órgão. Na prática, a ideia é enfraquecer o IBAMA para deixar os ruralistas ainda mais livres para desmatar à vontade.
Garcia disse ainda que é contra o compromisso de desmatamento zero proposto por outros candidatos e acredita que, ao contrário, existe espaço para desmatar ainda mais na Amazônia. A entrevista completa pode ser lida na Folha de S. Paulo (veja aqui).
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